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O que foi o Massacre de Mountain Meadows?

Mountain Meadows

Em agosto de 1857, Jacob Hamblin, presidente da missão indígena no sul de Utah, viajava em direção a Salt Lake City com George A. Smith e líderes da tribo paiute. Durante a viagem, eles encontraram uma companhia de emigrantes originários do Arkansas que seguia para a Califórnia.

Com cerca de 140 pessoas, a maioria jovens em busca de um novo começo, a companhia era liderada por Alexander Fancher e John Baker, ambos acompanhados por suas famílias.

Os emigrantes contavam com mulas, cavalos, carroções e centenas de bois da raça longhorn, planejando lucrar com a venda do gado na Califórnia. Porém, as mudanças nas rotas, causadas pelo estabelecimento de novos assentamentos, tornaram a jornada mais difícil.

Muitos dos santos na região eram hostis aos viajantes, seguindo o conselho de não vender provisões a forasteiros, especialmente com a ameaça iminente do exército americano.

A falta de apoio preocupava os emigrantes, já que enfrentariam áreas áridas e desafiadoras em seu caminho. Jacob Hamblin indicou Mountain Meadows como um excelente local para descanso, com abundância de água e pastagem para os animais.

Mountain Meadows

O emigrantes e os colonos

Ao chegar em Cedar City, último grande assentamento no sul de Utah antes de Mountain Meadows, a companhia de emigrantes do Arkansas teve dificuldades em conseguir suprimentos. 

Os emigrantes conseguiram adquirir 50 alqueires de trigo de um vendedor local e levaram o grão ao moinho do bispo Philip Klingensmith, que cobrou um preço elevado para moê-lo. Outros tentaram comprar itens em um armazém na cidade, mas com certa resistência. Testemunhos posteriores indicam que o balconista não possuía os itens necessários ou recusou-se a vender.

Aquelas situações deixaram os emigrantes furiosos. Algumas testemunhas relataram que membros da companhia proferiram ameaças contra os santos, declarando que ajudariam o exército a exterminá-los. Há relatos também de um homem que afirmou possuir a arma usada no assassinato de Joseph Smith.

O capitão Alexander Fancher tentou apaziguar a situação, mas a tensão aumentou. Parte do grupo teria confrontado Isaac Haight, prefeito, presidente da estaca e major da milícia territorial, com ameaças. Haight escapou e ordenou que o xerife John Higbee prendesse os responsáveis. Confrontados pelo xerife, os homens desafiaram sua autoridade antes de abandonar o local.

Isaac Haight e outros líderes locais estavam preocupados com a companhia de emigrantes do Arkansas, que, apesar de não causar danos físicos, havia gerado tensão devido a incidentes e rumores. Isaac procurou orientação com William Dame, comandante da milícia, que, após consulta com outros líderes, concluiu que a companhia não representava uma ameaça séria e desaconselhou qualquer ação agressiva.

Insatisfeito com essa resposta, Isaac se reuniu com John D. Lee, um santo dos últimos dias com boas relações com os paiutes, para discutir um plano de ataque.

Isaac sugeriu que os paiutes atacassem a companhia, matando alguns ou todos os homens e capturando o gado, mas sem envolver os colonos brancos. Ele justificou a ação com rumores de que os emigrantes estavam ligados à morte de Joseph Smith e planejavam apoiar o exército contra os santos.

Um mensageiro para Brigham Young

Em 6 de setembro, os líderes de Cedar City se reuniram novamente. Embora houvesse divisões sobre a necessidade de cautela, Isaac abandonou a reunião, e o conselho decidiu enviar um mensageiro para consultar Brigham Young. Porém, o envio foi adiado.

No dia seguinte, 7 de setembro, Isaac soube que John D. Lee, com apoio de paiutes, havia iniciado o cerco à companhia em Mountain Meadows. O ataque resultou em sete mortos e 16 feridos, contrariando os planos originais.

Isaac escreveu a Brigham Young pedindo orientação, omitiu o envolvimento dos colonos e enviou James Haslam a Salt Lake City.

Agora, os emigrantes sabiam que o ataque não era apenas obra dos paiutes, mas que havia envolvimento direto de santos dos últimos dias, tornando a situação ainda mais tensa.

Naquela noite, Isaac soube que dois membros da companhia, que haviam saído para buscar gado, foram atacados por santos armados. Um morreu e o outro escapou, revelando que os atacantes eram homens brancos, não apenas paiutes. 

Agora, os emigrantes sabiam que o ataque não era apenas obra dos paiutes, mas que havia envolvimento direto de santos dos últimos dias, tornando a situação ainda mais tensa.

Com aquela situação se tornando mais crítica, Isaac Haight e John Higbee se reuniram para saber o que deveriam fazer. A escassez de recursos e o risco de que outros emigrantes descobrissem o envolvimento dos santos motivaram a decisão de eliminar qualquer sobrevivente capaz de testemunhar.

Isaac viajou para Parowan para consultar William Dame, que inicialmente acreditava que os ataques eram de índios. Isaac então revelou que os santos estavam envolvidos e que os emigrantes sabiam disso. William, preocupado com as consequências, autorizou um ataque final, levando ao massacre de Mountain Meadows.

Em 10 de setembro, Brigham Young recebeu James Haslam, que havia cavalgando cerca de 300 quilômetros em três dias, quase sem dormir com uma mensagem urgente de Isaac, detalhando o cerco. Brigham, ao ler a carta, compreendeu a gravidade e começou a redigir uma resposta.

As instruções do profeta sobre Mountain Meadows

Na carta, Brigham ordenou:

“No tocante às companhias de emigrantes que passam por nossas colônias, não podemos interferir com eles até que sejam notificados para manterem distância. Não os provoquem. É esperado que os índios façam o que bem lhes aprouver, mas vocês devem se esforçar para manter um bom relacionamento com eles. Deixem que sigam em paz.”

O tom da mensagem era firme: a milícia local não deveria agir contra os emigrantes. Uma hora depois, Brigham entregou a carta a James Haslam. Ele acompanhou o mensageiro até seu cavalo, enfatizando a importância da missão:

“Irmão Haslam, quero que cavalgue o mais rápido que puder.”

Infelizmente, os acontecimentos em Mountain Meadows já estavam em andamento, e a resposta de Brigham não chegou a tempo para evitar a tragédia que estava por vir.

Em 11 de setembro de 1857, cerca de 60 a 70 milicianos, incluindo jovens, se prepararam para atacar os emigrantes do Arkansas. O objetivo era eliminar qualquer sobrevivente que pudesse revelar o envolvimento dos santos dos últimos dias no cerco.

O ataque começou com uma falsa promessa de trégua. Um sargento da milícia, carregando uma bandeira branca, se aproximou da barricada e ofereceu segurança em troca de armas, gado e bens. Os emigrantes aceitaram, confiando na promessa de escolta para fora da área.

A companhia foi organizada em fila, com doentes e crianças na frente. John D. Lee liderou a negociação, enquanto Nephi Johnson observava o grupo, sabendo que no momento certo, os milicianos receberiam o sinal de John Higbee para atacar, seguido pelos paiutes.

Ao se aproximarem do rancho de Jacob Hamblin, o plano estava prestes a ser executado, mas uma hesitação de Higbee interrompeu tudo. Ele gritou “Parem!”, gerando confusão entre os homens. Esse momento crucial selaria o destino da companhia e marcaria um dos episódios mais sombrios da história dos santos dos últimos dias.

Mountain Meadows

“Temo ser tarde demais”

Quando o sinal de John Higbee foi dado, a tragédia tomou um rumo brutal. A maioria dos milicianos, sem hesitar, disparou contra os homens e meninos da companhia, matando-os instantaneamente. O som dos tiros e a fumaça das armas criaram um cenário de pânico e destruição. Nephi Johnson, liderando os paiutes, deu o sinal para os guerreiros indígenas, que tomaram suas posições e dispararam contra os emigrantes mais próximos.

Alguns dos emigrantes que sobreviveram à primeira onda de ataques tentaram fugir desesperadamente, tentando salvar suas vidas. No entanto, Higbee e outros milicianos montados impediram sua fuga, enquanto os milicianos a pé perseguiam e abatiam os fugitivos sem piedade. Apenas algumas das crianças menores foram poupadas, mas a maioria das pessoas foi assassinada.

Nos carroções onde estavam os doentes e feridos, John D. Lee garantiu que ninguém escapasse. Ele se certificou de que nenhum sobrevivente fosse deixado para contar a verdadeira história do massacre. Mais de 120 emigrantes foram mortos naquele dia, marcando o massacre como um dos episódios mais sombrios da história dos santos dos últimos dias.

Dois dias depois, James Haslam chegou com as instruções de Brigham Young. Após uma cavalgada exaustiva, ele trouxe a resposta de Salt Lake City: Brigham Young havia ordenado que os emigrantes fossem deixados em paz, sem qualquer interferência adicional.

No entanto, ao saber da mensagem, Isaac não conseguiu conter suas emoções. Chorando e com uma expressão de arrependimento, murmurou: “Temo ser tarde demais… Tarde demais.”

Em 1999, o então Presidente da Igreja, Gordon B. Hinckley, participou de uma cerimônia junto com os descendentes das vítimas para dedicar um monumento no local do massacre. 

Desde então, a Igreja tem trabalhado em conjunto com esses descendentes para cuidar do monumento e da área ao redor, com o compromisso de continuar preservando o local para as futuras gerações.

Mountain Meadows

A transparência da Igreja sobre o Massacre de Mountain Meadows

Em busca de esclarecer os detalhes do massacre, a Igreja também abriu seus arquivos para os autores do livro Massacre em Mountain Meadows, que foi lançado em 2007. Durante a cerimônia do sesquicentenário do massacre, em 11 de setembro de 2007, o Presidente Henry B. Eyring falou sobre o compromisso em recordar o evento e aprender com ele.

Apesar de serem funcionários da Igreja, os autores tiveram controle editorial total e puderam tirar suas próprias conclusões após exaustiva pesquisa de todo o material histórico que reuniram. Eles tiveram acesso total a todos os materiais relevantes em posse da Igreja. Duas das conclusões mais importantes a que eles chegaram foram (1) que a mensagem que transmitia o desejo e a intenção de Brigham Young de não interferir com os imigrantes chegou muito tarde (2) que a responsabilidade pelo massacre foi dos líderes locais da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, na região próxima a Mountain Meadows, que também ocupavam cargos civis e militares e que os membros da Igreja agiram sob sua orientação.

Apesar de nenhum acontecimento da história poder ser completamente conhecido, o trabalho desses três autores tornou possível que soubéssemos mais a respeito desse episódio indescritível. A verdade, como viemos a conhecer, nos entristece profundamente. O evangelho de Jesus Cristo que professamos abomina o assassinato a sangue-frio de homens, mulheres e crianças. Entretanto, ele advoga a paz e o perdão. O que foi feito muito tempo atrás por membros de nossa Igreja representa um afastamento terrível e indesculpável do ensinamento e da conduta cristã. Não podemos mudar o que aconteceu, mas podemos lembrar e honrar os que foram mortos aqui.

Expressamos profundo pesar pelo massacre ocorrido neste vale há 150 anos e pelo sofrimento injusto e incalculável das vítimas naquela época e de seus parentes hoje.

Fonte: Sala de Imprensa, Santos – Volume 2.

Veja também: Brigham Young – Pequena Biografia dos Apóstolos dos Últimos Dias

 

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